Saudade da querência.

das prosas de galpão,

do churrasco gordo,

do chimarrão e de outras coisas mais ...

Da gaita tocando,

da gauchada dançando

e do alvoroço dos animais.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

GAUCHO BOBO

gentileza de Bernardete Angela Manosso

O gauchão entra no banco e vê o maior rebuliço.
Todo mundo procurando alguma coisa no chão. Só outro gauchão está paradão, firme, nem te ligo, indiferente ao nervosismo geral.

- O que houve aqui, tchê? pergunta o recém chegado pro outro.
- Foi um estancieiro que perdeu um cheque de quinhentos milhão e tá todo mundo procurando - responde o outro pro recém-chegado.

- Ué, e por quê tu não te mexe também?
- Porque o cheque tá debaixo da minha bota!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

PRECE DO GAÚCHO

De Akbani Carlo de Oliveira

Patrão velho do infinito,
Perdoa meu jeito rude,
Mas é a forma que pude
De fazer minha oração.
Com verso de rima xucra
Escritas assim do meu jeito,
Mas que demonstram respeito
E esta minha devoção.

Patrrão velho me perdoa
Se nunca aprendi a rezar
Mas aprendi a respeitar
Os teus sagrados mandamentos,
E ande por onde andar
Tu sempre estarás comigo
Me livrando do perigo
E de ter mais pensamentos.

Por isso, meu bom patrão,
Aos teus pés agora venho,
Oferecer-te o que tenho
Esta fé, esta humildade,
E pedir-te meu patrão:
Me dê forças e alegria,
Que eu trabalhe dia-a-dia
Para o bem da humanidade.

Patrão velho, escuta
Este teu peão e cordeiro,
Que eu seja teu mensageiro
Semeie o bem não o mal.
Te peço que tu protejas
O gaúcho, meu irmão,
E ao pago dê proteção
Desde a serra ao litoral.

Que da mão do lavrador
Possa nascer boa planta,
E que na voz que se levanta
Do poeta e do cantor
Possam surgir lindas frases
Hinos de paz e harmonia,
Cantados com alegria
Em cânticos de amor.

Me dá forças, patrão velho,
P'ra criar a gurizada,

Junto com a china amada
Que sempre está ao meu lado.
Que nunca nos falte o pão,
Nos dê a calma e a paciência
Para que nossa existência
Não siga um caminho errado.

Patrão velho celestial,
Que é o patrão dos patrões,
Protegei todos os peões
Quando forem camperear.
Dê forças para que no pago
Reine a paz e a abundância,
E que o Rio Grande por ganância
Não venha aa se ensangüentar.

Outra coisa patrão velho,
Eu preciso tre pedir:
Que eu sempre possa servir
Meu irmão com alegria,
Que eu trabalhe honestamente
E não me sinta arrependido,
Que eu possa ser compreendido
Através da poesia.

Obrigado, patrão velho,
Por ouvir minha oração,
Foi feita com devoção
E com respeito também.
Me despeço, patrão velho,
Fazendo sinal da cruz,
Em teu nome e o de Jesus,
Do Espírito Santo, Amém!


sábado, 22 de janeiro de 2011

MINHA PRIMEIRA POSTAGEM






  • Escolhi de propósito, como primera postagem,
  • por sIntentizar tudo o que pretendo transmitir,
  • neste modeto blog, o poema de


Antônio Augusto Fagundes







GAÚCHO


Os moços de Porto Alegre

- escritores, jornalistas,

aqueles que sabem tudo,

ou pensam que sabem tudo...

disseram que já morreste.

Ou então que estás de a pé,

sem cavalo, sem bombacha,

sem bota, espora ou chapéu,

sem comida e sem estudo.

Moços da voz de veludo

e máquinas de escrever

produzidos no estrangeiro

dizem que tu, companheiro,

morreste ou estás mui mal

porque o êxodo rural

te atirou pelas sarjetas

sujo de pó e de barro

catando a toa cigarro

nos becos da capital...

E no entanto, estás vivo!

Estás vivo e trabalhando

e produzindo o que comem

esses moços do jornal.

Quem é gaúcho, afinal?

Tenho pra mim que são três:

um é o peão, o assalariado,

o operário campeiro.

O segundo é o estancieiro,

o empresário rural.

O terceiro é o camponês

que se agüenta bem ou mal

sem ter nem peão nem patrão.

No mais, é um homem solito,

um carreteiro, talvez.

São os homens de a cavalo

que agarram o céu com a mão,

rasgando fronteira e chão,

marcando terneiro a pealo,

bebendo o canto do galo

no alvorecer do rincão.

São três homens diferentes?

No fundo, os três são um só:

mesma fala, mesma roupa,

mesma alma, mesma lida...

Em resumo, mesma vida,

mesmo barro e mesmo pó.

Um mais rico, outro mais pobre.

Prata, ouro, lata ou cobre

que importam, se homem é nobre

e amarra no mesmo nó?

A bombacha que eles usam

tem um século. Cem anos!

Os arreios do cavalo

são muitos mais veteranos:

duzentos anos talvez.

E o chimarrão, o palheiro,

o churrasco, o carreteiro,

o truco, a tava, as campeiras,

a gaita, o chote inglês...?

São dos séculos passados,

já tinham, em 93.

E a mesma mulher gaúcha

inspira cada vez mais.

E a paisagem é sempre a mesma.

Eterna, mas sempre nova.

Do litoral à fronteira,

da serra aos campos neutrais.

Das missões até o planalto

para frente e para o alto

como regiões naturais,

do verde das sesmarias

até o ouro dos trigais

- as duas cores da pátria

que o Rio Grande esparramou

nas plagas meridionais.

Porque o Rio Grande é eterno

como é eterno seu luxo:

tu não morreste, gaúcho,

deixa que falem, no mais.

Deixa que o fraco de sempre

(o fracassado, o vencido)

tente te encerrar no olvido

que o futuro lhe promete.

E que te chamem de Odete

os desfibrados morais:

no lombo do teu cavalo

estás tão alto, tão ato,

que a lama preta do asfalto

não te alcançará jamais!

Meu pai veio da campanha

com a mulher e dez filhos

e veio para abrir trilhos,

foi sempre um homem de bem.

Jamais andou mendigando,

catando lixo nos valos

ou toco pelas sarjetas.

Não se esqueceu das carretas

nem do tranco dos cavalos.

Nasceu e morreu gaúcho.

Trabalhou e foi alguém.

E eu herdei seu evangelho.

Me orgulho daquele velho

- eu sou gaúcho também!